terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cruzada contra a tradução?


Mesmo antes de ver estas últimas notícias na Comunicação Social já sabia que o mundo da Tradução, no que a Portugal diz respeito, não era de todo muito respeitado.

Subestima-se muito o trabalho feito por um profissional treinado e competente, permitindo que outros menos qualificados possam divertir-se com as línguas a seu bel-prazer. Porém, hoje vou tentar ignorar esse ponto uma vez que representa outro tema que a mim causa muita revolva e incompreensão.

Avançando no meu raciocínio e regressando ao tema que me leva a escrever, questiono-me sobre o futuro da Tradução em Portugal quando o Ministério das Finanças desautoriza a contratação de profissionais e dispensa outros que estavam actualmente em funções. Serão os tradutores assim tão descartáveis?

A primeira notícia sobre este assunto infame surge neste artigo do Jornal de Notícias: "Traduções na PJ também têm de ser autorizadas por Vítor Gaspar". Ora, a própria Polícia Judiciária ficou e cito "em estado de choque" quando passou a ser do seu conhecimento que não podiam solicitar a ajuda dos intérpretes para resolver casos. Penso que a famosa contenção orçamental terá algo a ver com isto, embora me pergunte até que ponto essa desculpa poderá estender-se.

Adiante, poucos dias depois, confronto-me com a seguinte notícia no Jornal Público: "Restrições orçamentais levam Cinemateca a exibir filmes sem legendas". Genial! Tenho a página deste jornal adicionada no Facebook e recordo-me de alguns comentários acerca desta notícia em que se sugeria que os mesmos filmes também fossem apresentados sem imagem. Ah, a boa ironia nestes momentos.

Mais uma vez, a contenção orçamental interfere. Imagino que os senhores iluminados por detrás disto pensem que o melhor até seria que os profissionais da tradução trabalhassem de graça uma vez que à vista de tantos, é um trabalho que pode ser feito qualquer um. Tudo o que precisa é conhecer razoavelmente um par de línguas e o trabalho está feito! Qualquer tipo pode fazer uma coisa dessas.

Será que alguma vez esses "entendidos" pegaram em Shakespeare e tentaram traduzir para português?
Peguem num ditado alemão e convertam-no para português, por favor.
Já agora, interpretem em simultâneo e sem qualquer hesitação uma depoimento de um suspeito de terrorismo.

Ah, e antes que me esqueça!
Tradutor e Intérprete não são termos sinónimos! O primeiro lida com as letras e o segundo com o discurso, aprendam a diferença, meus senhores. Não só os "entendidos" como a própria Comunicação Social devia mostrar-se mais preocupada em demonstrar que conhece a diferença.

Sem mais a dizer,
Retiro-me para já!


P.S - Neste país não existe apenas uma cruzada contra a tradução. Existe sim, uma cruzada de portugueses contra outros portugueses.


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